Desde que descobri o Ovo de Páscoa sabor Empadão de Frango, só consigo pensar nele. Aparentementente, o EmpadOvo existe. Como dizem os gringos, it's a thing. Atenção: não sou conservador com comida nem quero fomentar a indústria do pânico alimentar (“calabresa sem cebola? one esse mundo vai parar?”). No meu prato o estrogonofe convive com feijão, salpico de farofa o macarrão à bolonhesa, e chucho a borda da pizza no ketchup ou em qualquer coisa que estiver ao meu alcance. Meu prato no restaurante a quilo lembra uma conferência da ONU: um sushi conversa com o falafel, mediados pelo purê de baroa. Não estou nem aí pros olhares de desaprovação. Gosto da ideia de que nada é sagrado, e odeio os puristas da culinária (“o verdadeiro molho à bolonhesa leva javali porque na segunda guerra…” FODA-SE, não sou o Obelix e não conheço nenhum javali).
No entanto desde que descobri a existência do filho do empadão com o ovo de páscoa, esse ser anfíbio tirou meu sono. O Empadovo passou a ocupar o mesmo lugar mental do Javaporco ou no Toddynho sabor napolitano, frankensteins que só a mente doentia do ser humano poderia ter inventado. Tem algo na formação dessa palavra que também me fascina. Trata-se de um “portmanteau”, palavra inglesa pra quando duas palavras se fusionam (brunch= breakfast+lunch, bromance=brother+romance, labradoodle=labrador+poodle). Acontece muito na lingua inglesa e menos na língua portuguesa. Ou pelo menos acontecia. Por influência do inglês, acho temos tido cada vez mais, e por algum motivo todos me dão ódio (almojanta, namorido, sapatênis e agora… EMPADOVO)
A imagem que me persegue é essa: uma criança, cheia de brilho nos olhos, abrindo a sonhada embalagem de ovo de páscoa. E eis que ela se depara com um amálgama de massa podre socada com pedaços de frango desfiado (claro que o empadovo vai se despadaçar dentro da embalagem, se até o normal despedaça). A pergunta que me faço é: pra que? A quem interessa esse tipo de trauma? Qual é o próximo passo? Uma Nhá Benta de Salpicão? Um brigadeiro de feijoada? Um risole de chocolate branco?
Eita. Estava pensando em exemplos absurdos, e fui tendo a certeza de que, não importa o que eu pense, o brasileiro já terá pensado antes. E executado. Um beijo pra pizzaria batepapo. Nunca conseguiria ser mais criativo que um brasileiro com fome. A gente ri na cara do perigo, gargalha na cara do dogma culinário. Tem algo de bonito nisso. Por aqui, “a indefinição é o regime", disse o Caetano. Que o Empadovo nos sirva, pelo menos, pra isso: o regime.
Ou não. Fui ver vídeos de empadovo. E me peguei com fome. Lembrei que adoro empadão. Qual o problema de degluti-lo no formato oval? Trata-se simplesmente de um empadão sem quinas. Ou seja: com menos massa! Vale lembrar que o ovo de chocolate tampouco fazia sentido no começo. Até que nos acostumamos. Afinal veio da Europa, e compramos qualquer loucura quando chancelada pela Suiça. Seria o EmpadOvo um ovo de páscoa decolonial? Aguardo opinião de vocês.
queria deixar a menção à linda-horrível palavra ATACAREJO que inclusive propõe dois conceitos que meio q se anulam: vc compra grandes quantidades que na verdade são pequenas, mas são grandes
O empadovo é igual o TABECK: tabaco misturado no beck. Não façam isso. Ou façam, sei lá. E depois comam o empadovo do Gregório (🏳️🌈?)