O que é que eu vou fazer com essa tal liberdade?
Toda vez que fico sem filhos me vêm à cabeça este sucesso do SPC
Minhas filhas ficaram em Araguari, com os avós maternos. E não ter filhos: que delícia. Quer dizer: amo minhas filhas. Mas que delícia não tê-las, por um espaço de tempo. Pra depois voltar a tê-las, saudoso, renovado. Antes de ter filhas não sabia o que era isso: não ter filhas (tendo-as). Tios, avós, madrinhas e padrinhos sabem o que é isso, mas do avesso: tem filhos não os tendo. Nós temos filhos na escala 6 por 1, eles na escala 1 por 6. Graças a eles, entrevemos a vida lá fora por uma brecha.
O tempo sem filhos decorre de outra forma quando se tem filhos. Solteiro nunca dei tanto valor a uma manhã livre de domingo, porque todas as manhãs de domingo eram livres. Depois que fui pai, os domingos se transformaram em segundas-feiras. As crianças (as minhas, pelo menos) seguem acordando às seis da manhã, indiferentes ao calendário. E não adianta botá-las na frente da televisão, porque uma quer ver Peppa e a outra quer ver Carrossel (minha mais velha é noveleira), então já acordo mediando a gritaria. Não tinham me avisado que a paternidade apresentaria um novo conceito em domingos.
Acordei às 9h, enrolei na cama, terminei um livro grosso, toquei duas horas de trombone, voltei a dormir, conversei banalidades com Giovanna, transamos com tempo e sem medo de acordar alguém (milagre), scrollamos meia-hora de redes sociais, comentamos tretas sem nenhuma relevância dando graças a deus por não fazer parte delas, comecei a ler um livro novo e toquei mais trombone (os vizinhos devem estar loucos pras crianças voltarem). Quando olhei no relógio ainda era meio-dia.
Então tocamos num bloco de carnaval, almoçamos fora, vimos um filme (Anora, que filmaço, e que atrizaça, e que roteiro trágico e engraçado, e que filme desesperador e poético - do mesmo cara daquele Florida Project, sacam? triste pra dedéu, e tão bonito - esse Sean Baker deve ser bem dodói) e quando olhei no relógio ainda eram seis da tarde.

Foi aí que bateu uma tristezinha. Saudade das meninas. O maldito iPhone me mostrou uma foto da Celeste bebê. E dei uma chorada. Ela foi o bebê mais rechonchudo e mais sorridente, e nunca mais vai ser. Ela tá espichando, e já perdeu todas as dobras. Marieta, então, nem se fala. Tá meio pré-pré-adolescente. Quero que elas voltem logo pra casa. Já. Acabou a graça.
Também senti vontade, mais do que nunca, de largar de vez as redes sociais. Ando com um ódio descomunal de tudo o que as redes me fazem sentir (inclusive esse ódio descomunal). E também tenho saudade de escrever crônica. Faz sentido escrever crônica aqui? Isso daqui é uma crônica? Nem sei. Vou tentar voltar mais aqui.
Fiquem com um meme.
Faz sentido escrever crônica aqui sim!! A gente agradece :)
finalmente uma newsletter que preenche um dos grandes vazios dessa rede social: os leitores da madrugada. não tem nada melhor que receber um texto 00:00, nós leitores com insônia agradecemos, gregorio! aliás, vc ja pensou em dar algum nome pro seu substack? (não estou reclamando, gregorio duvivier ja é um nome originalíssimo)